Entrevista com autora Júlia Braga

26/03/2020

Júlia Braga tem sido uma das grandes sensações nos últimos anos na plataforma digital de leituras Wattpad. Digo isso por mim mesma: autora da primeira história que li quando conheci o aplicativo, intitulada "Eu, cupido", conseguiu fazer com que eu me apaixonasse por esta forma de leitura - o que antigamente me trazia certo receio. 

Hoje possui diversas obras fazendo sucesso na plataforma, além de ter feito, em parceira com a Mapa Lab, uma campanha de financiamento coletivo no Catarse (em breve haverá um post exclusivo sobre isso) , para publicar em versão física seu grande sucesso "Querido Bebê" (nossa primeira resenha aqui do blog!). A ideia era atingir uma meta em certo período de tempo para que quem contribuísse pudesse adquirir o livro em mãos. 

A entrevista a seguir foi feita em 17 de julho de 2019. Nenhuma pergunta ou resposta envolve datas e assuntos futuros para que se necessitasse modificações, então fiquem com a versão original, feita por mensagens de WhatsApp (sim!), entre Júlia Braga e Pieme Ariel (a Literata). 

Literata: Bom, Júlia, eu já devo ter dito milhares de vezes mas vou dizer de novo, sou uma grande fã dos seus livros. O primeiro livro que gostei de verdade no Wattpad foi "Eu, cupido". 

Júlia: Ah, que lindo!!! Obrigada! ❤

Literata: Vamos lá. Primeiro de tudo eu quero saber, você tem alguma preparação para escrita?

Júlia: Como assim preparação?

Literata: Pra escrever, você tem algum ritual ou forma de começar bem? Eu por exemplo, assisto Friends, rsrs

Júlia: Acho que não tenho, hahaha

Literata: E como você lida com outros problemas, como bloqueio?  Ou medo da história não atingir suas expectativas? 

Júlia: Com bloqueio, depende. Se for um bloqueio por conta de algo emocional meu do momento, eu me dou o tempo para superar sozinha. Com alguns outros tipos de bloqueio, tenho que me forçar a sentar e escrever mesmo que saia horrível.

Júlia: Não tenho exatamente medo de a história não atingir minhas expectativas. Nunca o que eu escrevo fica tão legal quanto a ideia que eu tinha na cabeça, e é algo que eu precisei aprender a aceitar. Porém, enquanto não estou satisfeita com algo, eu sempre vou estar reescrevendo, até o infinito, ou até ficar de um jeito que dê para engolir pelo menos!

Literata: Ah te entendo, kkk

Literata: Qual dos seus livros deu mais trabalho de escrever? E qual é seu queridinho?

Júlia: O que mais deu (na verdade, está dando!!!) trabalho de escrever é "Mamãe Cupido". Acho que porque eu já não estou no clima dessa história e estou tendo que me forçar a escrever em respeito aos leitores que ainda a aguardam.

Júlia: Meu queridinho é "Inconfidente", que escrevi em conjunto com a Mel Geve. Mas o que mais gostei de postar no Wattpad foi "Eterno", porque os leitores eram ótimos! "Eterno" é meu queridinho também.

Literata: Deve ser uma situação complicada mesmo. Mas admiro você estar fazendo pelos leitores. 

Literata: E quanto a "Incondifente" . Eu vejo que você tem muitas escritoras companheiras no Wattpad. E uma delas é sua amiga, Mel Geve. Como foi escrever "Inconfidente" em conjunto com ela? É difícil compartilhar suas ideias e forma de escrever com alguém?

Júlia: Obrigada! Foi bem mais fácil do que eu esperava! Escrever com a Mel fluiu de maneira muito natural. Nós escrevíamos juntas em um documento no Google Docs, então as duas podiam alterar, acrescentar ou deletar coisas conforme vissem a necessidade. Por Whatsapp (às vezes, pessoalmente), discutíamos pontos chaves que queríamos ter na história, e pelo Docs escrevíamos em conjunto. Quando uma ficava em bloqueio, a outra continuava. Assim, de alguns jeitos, foi mais fácil que escrever sozinha. No finalzinho, tivemos um pouquinho de problema, porque precisávamos terminar em um prazo curto e temos rotinas bem diferentes, mas acabou dando tudo certo! 

Literata: Que bacana! Por vocês serem grandes amigas também deve ter sido muito mais confortável. 

Júlia: Sim, porque tínhamos intimidade para dizer quando não gostávamos de alguma coisa ou achávamos que podia ficar melhor!

Literata: Você disse que está escrevendo a continuação da história de "Eu, Cupido" no momento, mais pelos leitores que querem muito. Você teria feito uma trilogia sem todo esse sucesso?

 Júlia: Então, é que "Eu, Cupido" é complicado. Existia uma versão antiga da história, que terminei de escrever em 2015, e agora tem uma versão nova. Como no começo eu não estava esperando o sucesso, quando os leitores insistiram que queriam continuação, eu acabei cedendo e criando a história de "Sr. Cupido" quase meio se pensar! Daí, porque "Sr. Cupido" teve tantos furos, tive que fazer "Mamãe Cupido" . 

No entanto, depois de escrever a versão nova, eu quis mudar toda a história de "Sr. Cupido", e essa eu quero escrever por prazer mesmo, com tudo pensado e tal...

Literata: Entendo. Eu achei muito bacana ver todo o crescimento do livro. Eu li a versão antiga e agora já faz mais sucesso do que na época. 

Literata: Isso não te assusta um pouco? Digo, essa situação piegas de ter uma multidão pra agradar. 

Júlia: Assusta sim! É bem mais pressão do que não ter público algum hahaha Mas mais legal também.

Literata: E eu imagino que você colocou um pouco de você em cada personagem de suas histórias, provavelmente. O que você acha que colocou de você em Liliana Rodrigues (protagonista da trilogia "Eu, cupido")? 

 Júlia: Eu sempre coloco bastante de mim em cada personagem, mas pessoalmente as duas que acho mais difícil de encontrar semelhanças comigo são a Amélia (de "Como nos Filmes" ) e a Liliana. A Amélia porque, como foi minha primeira história, eu tinha muito medo de as pessoas lerem e pensarem "Nossa, Júlia, vc escreveu sobre você mesma!", então fiz ela ser o mais diferente de mim possível, até de um jeito tão cômico que ela ficou meio irreal. A Liliana tem menos de mim porque ela tem mais do que eu QUERIA ser (confiante, impositiva, perseverante) do que o que eu de fato sou.

Literata: É um ótimo ponto de vista, rsrs

Literata: Em "Querido Bebê" vários leitores comentaram o polêmico final. Você já chegou a se arrepender desse final ou sentir alguma "culpa"? Digo, você diz no final da história que já planejava esse final desde o início. Mas diante de toda a reação dos leitores, você chegou a duvidar se era o certo? 

Júlia: Sim, a história surgiu na minha cabeça a partir do final, e como era um final muito tenso diversas vezes eu pensei em mudar. Minhas amigas que liam a história na época e sabiam sobre o final me impediram, reforçando para mim o quanto era importante que eu mantivesse meus planos originais.

Júlia: Já senti muita culpa por esse final, sobretudo uma ou duas vezes quando o que ocorre na história foi causa de gatilho emocional BEM PESADO para leitoras. Porém, não acho que nenhum outro final conseguisse fechar a história de um jeito melhor, contando o que eu queria contar, passando aqueles exatos sentimentos. Então, no geral, não me arrependo.

Literata: E qual foi sua inspiração pra escrever essa história em particular?

 Júlia: A ideia central veio para mim um dia de repente e me deixou muito triste, daí eu pensei "Preciso escrever essa história para compartilhar a tristeza com todo mundo"! hahaha

Literata: Rrsrs. Honestamente, eu já li duas vezes. Na primeira senti raiva. Mas na segunda senti que esse final foi mesmo necessário, como você disse. 

Literata: E agora uma perguntinha meio reflexiva. Qual é o mais difícil pra você: escrever a primeira frase do livro ou a última? 

 Júlia: A primeira! É muito difícil para mim saber como começar uma história. Normalmente, todas as histórias que eu escrevo têm pelo menos cinco começos diferentes!

Literata: E quando acaba acontecendo de você ter a ideia de uma cena, mas que ainda está muito longe do que você já está escrevendo... 

Literata: Você simplesmente escreve essa cena a parte ou segura com você?

Júlia: Eu normalmente seguro para escrever na hora certa, daí uso a vontade que estou de escrever essa cena como combustível para dar conta de escrever até chegar nela!

Literata: Uau, isso é algo muito bacana. Eu sou um desastre, penso em milhares de cenas e acabo esquecendo todas elas por conta do desânimo! 

Júlia: Acho que dá para você anotar tipo as coisas básicas que você quer que aconteça na cena, para não esquecer! Daí escrever depois! Pelo menos é o que funciona para mim.

Literata: Como você escolheu os nomes dos seus personagens? Procura algo que combine com a personalidade da pessoa? 

Júlia: Eu antes escolhia pelo significado, mas hoje em dia fico só horas em site de nome procurando um que soe legal, que combine com o personagem.

Literata: Qual história sua você acha que mais te define? 

Júlia: Acho que "Eu não amo você!" A protagonista, Rebecca, é eu purinha. Odeio conflitos e tal.

Literata: Kkk, e pelo que me lembre, vocês duas tem alergia a água! Eu não acreditei quando li aquilo. 

Júlia: Pois é!

Literata: Por último, o que você acha de aplicativos como Wattpad? Foi nessa plataforma que você decolou na escrita, ou já escrevia em outro lugar?

Júlia: Eu costumava escrever online no Orkut. Naquela época, postei "Como nos Filmes" e "Eu não amo você!" Eu lembro que "Como nos filmes" chegou a ter cinquenta pessoas diferentes comentando no final, e eu achava absurdo de tão legal que cinquenta pessoas tinham se dado ao trabalho de ler coisa minha. No Wattpad, o alcance foi bem maior!!!

Júlia: Mas existem coisas que me fazem sentir falta de escrever no Orkut, como a comunicação mais intimista com os leitores, muitos dos quais viraram meus amigos. E também me sinto meio negligenciada de vez em quando pelo Wattpad como empresa :/

Literata: Entendo. Muitas vezes o app evolui de uma forma errônea. 

Literata: Mas devo dizer que seu trabalho é incrível e muitos não esperam disso de uma pessoa tão jovem. Mas acho que é exatamente por isso que você é uma pessoa importante para os leitores, você é uma nova voz. Bom, era isso. Foi muito bom conversar com você! Espero poder ler mais histórias suas sempre. Obrigada!

Júlia: Muito obrigada por todo o carinho!!!

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